terça-feira, 16 de agosto de 2011

Prelúdio

Imagine um mundo onde a empresa mais rica fosse uma produtora de preservativos, onde o consumo de porra per capta fosse algo equivalente ao consumo de cerveja per capta da Bélgica, um mundo onde ao invés de dormir, acordar e trabalhar você só fizesse sexo, sexo e sexo.


-ENSAIO SOBRE A NINFOMANIA-


Rio de Janeiro, ano de 1931; está em curso a inauguração do grande objeto fálico no morro do Corcovado chamado pelos populares de Pinto do Redentor. Fogos de artifício brindam aquele anoitecer, a vista da Cidade Maravilhosa vigiada por um piru gigante feito de concreto armado. "Esplêndido!", dizia a população carioca, o Pinto do redentor estava na boca do povo, estava na cabeça do povo; todos esqueceram as mazelas, o prefeito conseguira agradar a cidade à beira de um colapso de ordem. A madrugada de festa acabou, a cerveja dos bares secou, e os motéis - mais conhecidos como "casas de socialização" - fecharam suas portas.


Nasce o sol, aquele piruzão abençoando a Guanabara! Um dia de trabalho como outro qualquer, as cafetinas ocupando seus escritórios de prestígio na Rio Branco, observando tudo e todos bem lá do topo da pirâmide social. Elas jamais desceriam de lá, pra ter status era preciso dar o suor -e outras coisas mais-, pra chegar a esse nível você precisava ser uma espécie de ourives sexual.

Nos escritórios do círculo inferior da firma estavam os ginecologistas e urologistas; que não só monitoravam a saúde das prostitutas operárias, mas também contabilizavam todo o movimento de caixa da firma. Era tudo muito bem organizado, a hierarquia da empresa funcionava perfeitamente! As regras eram rígidas, demissão por justa causa se você olhasse diretamente para o decote da cafetina; relações sexuais entre colegas de trabalho eram terminantemente proibidas. Mas que diabos era isso!? Olhar para o decote de uma mulher é tão comum como olhar para a bunda da mesma! Todos tensos no ambiente de trabalho, bem trajados, com camisas sociais brancas, suspensório e paletó. As mulheres usavam vestidos longos, era regra esconder as pernas.

Fazer sexo era tão normal e necessário quanto beber copos d'água durante o dia, você sabia que todos ali faziam muito sexo nas horas vagas. Mesmo assim, se vestiam de modo recatado e se portavam no trabalho como se nunca tivessem visto um pênis na vida. A sociedade era ninfomaníaca, mas nem por isso deixava de ser hipócrita. A cafetina-mór vislumbrava o Pinto do Redentor de sua janela no escritório mais privilegiado na Rio Branco.








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