sexta-feira, 29 de julho de 2011

Brinquedo na caixa

Sua casa é uma caixa, seu quarto é uma caixa, qualquer disposição de 4 paredes relacionadas em 90º com cada uma é uma caixa. Seu carro é uma caixa que se move. O escritório que você trabalha é uma caixa; a madeira da sua mesa de trabalho poderia ser transformada numa caixa, mas virou peça de labor. Sua cadeira tem rodinhas, mas ao contrário das rodas aro 16 do carro-caixa, estas só ampliam sua zona de conforto. Uma ergonômica com rodas; um carro com banco de couro, ar-condicionado, aquecedor, acendedor de cigarro. Seu escritório é a auto-estrada de sua cadeira reclinável.

No trajeto computador-impressora impressora-gaveta gaveta-computador você acabou descobrindo que nem sempre o direito de ir e vir significa liberdade. Meu Deus, o que o mundo virou? A zona de conforto apenas se expandiu de uns anos pra cá. O homem virou uma porta, só se movimenta em volta de seu eixo, que por sua vez, está preso numa parede. O eixo do homem são as 4 paredes.

Sumiu a ousadia. Sumiu. APARECEU A OUSADIA. Mentira, a ousadia estava disfarçada. A alienação chegou a um certo ponto, que eu já não consigo saber se sou alienado ou não; você fica alienado dentro da alienação, como se fosse uma boneca matrioska. A boneca vai diminuindo proporcionalmente com o nível profundo de alienação no qual ela se encontra. As bonecas maiores são realmente superiores? Vale lembrar que não importa o tamanho, você também está alienado; uma boneca matrioska só tem esse status de peça russa de decoração refinada por causa das bonequinhas menores em seu interior. O sujo faz zombaria do mal lavado.

Dúvida pessoal. Inegável que o artesão que fez a matrioska tem uma posição de destaque. Suas mãos moldarão a peça como lhe for conveniente. Palavras-informações moldam as pessoas. Dúvida pessoal, a linha entre o artesão e a boneca maior; sou artesão, matrioska-mãe ou ínfima boneca? Vale lembrar que estou nesse momento dentro de uma caixa de quatro paredes e sentado numa cadeira reclinável.